I
«Passamos a vida a fugir
de alguma coisa e à procura de outra.
O nosso comum destino é chegar e partir.»
Os corações também se gastam,
Pedro Paixão
Quando o meu coração parou eram exactamente três horas e um quarto no relógio da sala da tia Justa. Caiu no carrinho de chá cheio de bibelôs trazidos pelo Francisco, de França. E partiu-se em milhões de cacos como se um deles se tratasse.
O que eu mais fiz na vida foi fugir e instalar-me no sofá verde da minha mãe confortável a beber. Fosse o que fosse, não me importava.
O que eu mais fiz na minha vida foi fugir de ti. Das tuas insinuações, da tua mulher, da tua cama no fim da hora de almoço, das tuas conversas. De ti e de nós. Porque nunca tive a certeza que o teu caminho era o meu e, porque sempre tive a certeza que tu nunca caminharias nele comigo.
O que eu mais fiz nas minhas horas foi beber. Qualquer que fosse o líquido, sentia-o a escorregar pela garganta como se fosses tu a escorregar pelo meu corpo acabado de sair do banho. Como se fosses tu a dar-me qualquer sensação de bem-estar tal qual um comprimido anunciado na tv.
Agora que ias para Tóquio, as horas deixaram de fazer sentido. O mundo virado ao contrário, os relógios trocados e um jet-lag perfeito para os desencontros. Nunca fomos bons nos encontros, porém sempre subtis nas partidas.
E depois, também nunca estive à tua espera. Gostava quando ias e vinhas, e ias e não vinhas, e vinhas e não ias. Sobretudo, quando não ias. Sobretudo quando ias e era para sempre, mas acabavas sempre por voltar.
Nunca entendi uma palavra de japonês.
Anita 2007-01-11
de alguma coisa e à procura de outra.
O nosso comum destino é chegar e partir.»
Os corações também se gastam,
Pedro Paixão
Quando o meu coração parou eram exactamente três horas e um quarto no relógio da sala da tia Justa. Caiu no carrinho de chá cheio de bibelôs trazidos pelo Francisco, de França. E partiu-se em milhões de cacos como se um deles se tratasse.
O que eu mais fiz na vida foi fugir e instalar-me no sofá verde da minha mãe confortável a beber. Fosse o que fosse, não me importava.
O que eu mais fiz na minha vida foi fugir de ti. Das tuas insinuações, da tua mulher, da tua cama no fim da hora de almoço, das tuas conversas. De ti e de nós. Porque nunca tive a certeza que o teu caminho era o meu e, porque sempre tive a certeza que tu nunca caminharias nele comigo.
O que eu mais fiz nas minhas horas foi beber. Qualquer que fosse o líquido, sentia-o a escorregar pela garganta como se fosses tu a escorregar pelo meu corpo acabado de sair do banho. Como se fosses tu a dar-me qualquer sensação de bem-estar tal qual um comprimido anunciado na tv.
Agora que ias para Tóquio, as horas deixaram de fazer sentido. O mundo virado ao contrário, os relógios trocados e um jet-lag perfeito para os desencontros. Nunca fomos bons nos encontros, porém sempre subtis nas partidas.
E depois, também nunca estive à tua espera. Gostava quando ias e vinhas, e ias e não vinhas, e vinhas e não ias. Sobretudo, quando não ias. Sobretudo quando ias e era para sempre, mas acabavas sempre por voltar.
Nunca entendi uma palavra de japonês.
Anita 2007-01-11
3 Comments:
Lindo.
Beijos.
:)
Parabéns, está mesmo bonito.
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