4.12.08

Ninguém nos ouve

A cozinha é branca. Pura. Impenetrável. Tu desfazes figos com os dedos. Cheiras a doce, a verão. Eu escondo-me através de risinhos. As tuas mãos voltam a tocar as minhas. Voltam a sentir o suor. Está calor perto de ti. Tu és verão quando a neve cai lá fora e o frio nos obriga a acender a lareira. Roubas-me um beijo. Tu sabes que não podes. Eu sei também, mas deixo. Baixo as armas. Estou farta de lutar contra a maré, de chorar no banho, de te sentir cá dentro a rasgar-me o coração. Estou pronta. A porta da cozinha fecha-se. Os figos adocicam o momento. Estamos prontos. E agora, ninguém nos ouve.
®Anita