9.2.09

Saiu de casa

Começou a descer a rua. A leve brisa que passava por entre os prédios, rasava-lhe o cabelo a pente três. A mala vermelha-sangue no braço esquerdo parecia marcar uma posição perante a vida. Fazia dois dias que não saía de casa. O trabalho poluente acumulava-se em caixotes sem vida. O frigorífico imaculado escondia uma salada de frutas mal acabada. Saía de casa, porque lhe apetecia beber café. Não um normal. Um daqueles diferentes, da moda, com a sabor a país longínquo e a horizonte a perder de vista. Entrou no café. Sentou-se num canto mal iluminado e deixou-se encostar ao de leve no cadeirão. Abriu o livro, que tirou da sua mala vermelha-sangue-atentado-à-decência. E leu, leu a vida em cada palavra. pediu um café, baixinho como se estivesse com medo de não estar na moda e não pedir o correcto. Afundou-se mais no cadeirão. Pousou o livro e pensou nas tarde de verão à beira-rio e daquelas corridas em que fazia tudo para chegar primeiro à água que a prima Alice.
®Anita