(...)
Hoje abri novamente a janela onde sempre me debruço e escrevi: aqui está está a imobilidade aquática do meu país, o oceânico abismo com cheiro a cidades por sonhar, invade-me a vontade de permancer aqui, para sempre, à janela, ou partir com as marés e jamais voltar...
releio o que escrevi há doze anos, neste mesmo lugar: as canetas secaram, os lápis ficaram esquecidos não sei onde. as borrachas já não apagam a melancolia das palavras, a escrita que inventámos evadiu-se do corpo. o vazio devora-nos. onde estivemos este tempo todo? voltaremos a encontrar e a tocar nossos corpos?
Não estás aqui mas vejo-te nítido quando uma pétala de bruma envolve a casa e adormece o desejo. um astro ininteligível e de órbita difícil guia-me, ilumina-te pelas frestas dum espaço oco perscruto o eco do meu corpo, o silente medo de continuar vivo.
sento-me em cima do meu próprio lixo e sorrio. espero que cheguem outros dias com algum sonho, ou destino, mais feliz.
AL BERTO
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