28.1.08

SE NATURAL
FOSSE SIMPLESMENTE
EXTRAORDINÁRIO

Se as Cidades fossem abertas.
Se não houvesse paredes,
ou se as paredes fossem transparentes.
Se as paredes fossem janelas.
Se estivéssemos expostos a outras dimensões,
ou se simplesmente déssemos pela sua existência.
Se nos questionássemos pelo simples prazer de encontrar novos significados.
Se estivéssemos mais atentos ao que nos circunda.
Se de repente nos encontrássemos sem querer num espaço totalmente alheio.
Se olhássemos para o desconhecido como o nosso reflexo.
Não seriamos tão estupidamente críticos.
Se os nossos hábitos e as nossas maneiras de agir e de ser fossem idênticas.
Se vestíssemos todos as mesmas roupas,
usássemos os mesmos perfumes,
se tocássemos a mesma música.
Se as opções se esgotassem.
Não estaríamos aqui.
Se estivéssemos a partilhar o mesmo espaço sem darmos conta disso.
E se ainda por cima estivéssemos a caminhar na mesma direcção
com objectivos semelhantes.
Se a realidade fosse nua e crua.
Se natural fosse simplesmente extraordinário.
Não haveria mais nada a dizer.
Para falar em tendências é preciso olhar em frente,
além, e voltar a olhar para trás.
Este é o ponto zero,
o ponto das possibilidades infinitas.
Daqui, a vista parece atingir o ponto onde o mar e o céu se dissolvem.
Este é o ponto onde nos encontramos no presente.
Daqui para a frente, tudo é possível.

texto de Juliana Reis, IN CRU-A (Número 0, Dez 2006)