1.2.08

VI

Arranca-me os botões. Tira-me os ganchos, as fitas, os fechos. Desaperta-me a roupa. Atira-me contra a parede. Desfaz-te na minha boca, volta ao início, começando pelo fim. Enrola-te em mim, que eu preciso que tu faças tudo isto ou ainda mais. Entra em mim, pelos meus poros. Atravessa-me as veias e deixa-te estar mais um bocadinho aqui. Mais do que é costume.
Para que possa começar tudo outra vez. Para te ter de olhos bem abertos, a percorrer cada parte do meu corpo. Para que possa sentir-te cada vez mais perto, demasiado perto. Para que possa perceber o que faço aqui. O que fazemos nós quando nos olhamos nos olhos. O que fazem os outros quando nos tiram as paredes e os sofás. O que fazemos um ao outro de tão extraordinário que não há palavras para desmanchar as nossas bocas.
Percebes-me? Eu tento. Eu grito. Eu arranco os meus botões. Eu tiro os meus ganchos, as fitas e os fechos. Eu encosto-me à parede e tu não estás. Onde estás? Ainda ontem estavas sentado lá fora. Onde vais? Ainda o mês passado disseste que não tinhas planos.

Arranca-me o coração contra a parede, se não te vais desfazer na minha boca. Que eu fico aqui, irremediavelmente, pendurada no cabide. Na esperança que te voltes a pendurar aqui também.