28.3.08

Entrada só para casais.

Entrámos no Delight. Outrora pertencente ao submundo da prostituição, conservava ainda as paredes rosa choque e os candelabros pirosos. Sofás de veludo verde garrafa espalhavam-se pelas labirínticas salas onde muitos homens e mulheres se devem ter encostado uns aos outros num prazer despreocupado e bem pago.

Uma mulher loura, muito branca e com os olhos muito pintados de negros, arrastava-se no palco cantando e contorcendo-se como ninguém estivesse a olhá-la. A música vinha de um rádio manhoso do lado direito do palco. O Delight não era um submundo de carne vendida a troco de moedas, mas um mundo submerso de personagens vendidas ao revivalismo dos cabarets e à moda do antigo.

Pedimos dois martinis e sentámo-nos num dos sofás que ocupava a primeira fila do concerto.
A tua mão entrava na minha saia ao ritmo da voz da loura. Lenta e subversivamente, a deixar escapar pequenos gritos de angústia. Pensei nos sofás e nas suas histórias. Afinal, estávamos ali para nos roçarmos como outrora o faziam as mulheres de vida fácil e o senhores de boas famílias. As nossas vidas não eram definitivamente fáceis e boas famílias já há muito que tinham deixado de existir. Fizémos amor com as mãos no sofá verde garrafa em frente ao palco. Despedimo-nos. Acho que nunca soube o teu nome. Pelo menos, conseguimos entrar os dois naquela noite fria, onde só era permitida a entrada a casais.

4 Comments:

Blogger blá blá bá said...

Sim.
O Delight também me comeu.

4:42 da tarde  
Blogger Ana Ribeiro said...

:D

Hummm...Ainda bem.

4:55 da tarde  
Blogger bruno cunha said...

curioso este teu conto...
keep on!
(já agora dá uma espreita no meu blog, tanx)

10:57 da manhã  
Blogger p az said...

Belas imagens, Ana. Muito Marguerite Duras.

10:01 da manhã  

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