30.4.07

Pequena elegia de setembro


Não sei como vieste,
mas deve haver um caminho
para regressar da morte.
Estás sentada no jardim,
as mãos no regaço cheias de doçura,
os olhos pousados nas últimas rosas
dos grandes e calmos dias de setembro.

Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?

Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.

Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?

Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.

Eugénio de Andrade (1923 - 2005)
"Coração do dia"

26.4.07

Há dias assim...

"Closer" - NIN

You let me violate you, you let me desecrate you
You let me penetrate you, you let me complicate you
Help me I broke apart my insides, help me I’ve got no soul to tell
Help me the only thing that works for me, help me get away from myself
I want to fuck you like an animal
I want to feel you from the inside
I want to fuck you like an animal
My whole existence is flawed
You get me closer to god
You can have my isolation, you can have the hate that it brings
You can have my absence of faith, you can have my everything
Help me tear down my reason, help me its' your sex I can smell
Help me you make me perfect, help me become somebody else
I want to fuck you like an animal
I want to feel you from the inside
I want to fuck you like an animal
My whole existence is flawed
You get me closer to god

Through every forest, above the trees
Within my stomach, scraped off my knees
I drink the honey inside your hive
You are the reason I stay alive

24.4.07

TRIBUTO A ANTÓNIO GEDEÃO



Quarta, 25 ABR | 22h | poesia | integrado nas comemorações do 25 de Abril pela Plataforma Abril em Braga| na Velha-a-Branca

Cem anos após o nascimento de António Gedeão, a obra do poeta revela-se cada vez mais viva e actual. A nostalgia do paraíso perdido, a solidão, o confronto com a realidade, a natureza, a ciência, as certezas, a guerra e o amor são o cenário deste espectáculo. Não se trata de um recital, mas de um tributo com interpretações viscerais num registo naturalista e realista, em que a densidade de cada poema é trabalhada através de alavancas emocionais. O riso, a dor, a ternura e a compaixão são o preço a pagar por cada espectador durante 45 minutos.

Ficha artística/técnica
Direcção Artística: João Negreiros
Interpretação: Ana Cardoso, Cláudia Horta, Eva Carina, José Vítor, Luísa Baptista, Miguel Carvalho, Sara Costa e Zé Luís Costa
Operação de luz: Dina Costa
Produção: Sara Guimarães e Marta Vaz

19.4.07

Statement

Comecei por entender que a arte é apenas arte, e isto já tem muito que se lhe diga. Aos meus olhos, aos teus, aos de quem passa e fica preso numa obra de arte. Aquilo que sentimos varia com os dias, as semanas, com companhia que levamos ao museu ou à galeria, com quem temos à cabeceira. De qualquer maneira é arte. É cor ou ausência dela, são palavras soltas ou atadas a um papel, um bloco de cimento, uma massa consistente, telas e mais telas que se amontoam, é arte. Podes dizer que é uma porcaria, que é fantástico, que merecia um prémio, que não tem utilidade nenhuma. Vai sempre haver alguém que te contradiz ou que te apoia, mais ou menos, consoante a posição que tem na vida ou da ideia que faz dela. É arte, mall ou bem, está diante dos teus olhos e sentes sempre alguma coisa. Começa por perceber que não adianta discutir sem observar, não se diz bem porque toda a gente diz, nem se diz mal porque sim, ou porque te apetece. Diz bem “like you really mean it” e diz mal, alto e bom som, se tiver que ser. A arte é arte, porque se fala dela. Está lá, incomoda ou satisfaz. Existe.


Anita

17.4.07

A SOLIDÃO

Vive mal quem só vive para si.

Alfred de Musset

4.4.07

A IMPACIÊNCIA

A paciência é amarga, mas seu fruto é doce.

Jacques Rosseau