27.12.07

Quando ainda havia esperança...Rest in Peace Benazir!



Benazir Bhutto assassinada durante comício político
Benazir Bhutto, ex-primeira-ministra paquistanesa e actual líder de um dos partidos da oposição, morreu hoje num ataque à bomba, durante um comício político na cidade de Rawalpindi. A morte ficou a dever-se a um tiro no pescoço, segundos antes de o atacante se imolar com explosivos. Pelo menos outras 16 pessoas morreram no ataque.
in, Público (27-12-2007)

A esperança é a última a morrer. E que esta, descanse em paz.

O ESTOICISMO

O método estóico de enfrentar as necessidades suprimindo os desejos equivale a cortar os pés para não precisar de sapatos.

Jonathan Swift

21.12.07

Bom Natal!

Natal dos simples

Vamos cantar as janeiras
Vamos cantar as janeiras
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas solteiras
Vamos cantar orvalhadas
Vamos cantar orvalhadas
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas casadas

Vira o vento e muda a sorte
Vira o vento e muda a sorte
Por aqueles olivais perdidos
Foi-se embora o vento norte

Muita neve cai na serra
Muita neve cai na serra
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem tem saudades da terra

Quem tem a candeia acesa
Quem tem a candeia acesa
Rabanadas pão e vinho novo
Matava a fome à pobreza

Já nos cansa esta lonjura
Já nos cansa esta lonjura
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem anda à noite à ventura


Zeca Afonso, Cantares de Andarilho

13.12.07

ler com o dedo

O José desafiou o Valter Hugo Mãe para o seguinte:
1. pega no livro mais próximo, com mais de 161 páginas - implica acaso e não escolha.
2. abre o livro na página 161.
3. na referida página procura a 5.ª frase completa.
4. transcreve na íntegra para o teu blogue a frase encontrada.
5. passa o desafio a cinco bloggers.

Eis o resultado do Valter:
«Podes cozinhar amanhã.» (caryl churchill «sétimo céu, uma boca cheia de pássaros, distante», campo das letras)


Eu como achei piada, fiz o mesmo:

"O vadio disse a Coco que se despissse." (Reinaldo Arenas: "Antes que anoiteça". edições asa)


Passo o testemunho à Bárbara, ao Rui, ao Nuno, ao Brunoe à Susana.

«Creo que la época más fecunda de mi creación fue la infancia.(. . .) Aunque en la casa había siempre mucha gente, para llenar aquella soledad tan profunda que sentía en medio del ruido, poblé todo aquel campo de personajes y apariciones casi míticos y sobrenaturales.»

Celestino antes del alba, Reinaldo Arenas

10.12.07

Frankenstein


I am falling into a chasm
I am falling with you in my arms
No wait, these are your arms
Your arms of love
That I'm falling into
Is this a vision of love

When I was a young boy
Mama said, “You better watch out for the fall.”
But now that I’m a grown woman and I know
I know, I know I can see the cold
I can see the cold to the place where he is born

Come on baby, let’s fall
Fall into a chasm
With me, fall into love

And I hope that the vision will never shatter
For as long as I hold on to you
These cold arms

There’s something in these eyes too close for comfort
Now that I’m a grown woman
And I know, I know, I know
I know the call to the place where he is born

You can see these arms
They are big and strong now baby
Well I’ll prove to you these arms
Hold you tight, it's cold, leave baby

Let’s go, it’s time
This is a vision of love
And I'm freezing and I'm falling in the cold
Let's go, oh my, my, let's go

Mr. Antony & the Johnsons

6.12.07


Nada parece mudar por aqui. A agulha volta ao princípio e a música recomeça e inunda-me o quarto. A janela aberta de par em par, a cidade que vive lá fora. Nada mudou. Continuo parada, olhando as algas que se enrolam nos meus pés. A música traz as ondas, e com elas a dificuldade em respirar. Torna-se óbvio a fuga, a bóia de salvação. Mas nada mudou por aqui e a agulha volta ao início, riscando mais uma vez a minha vigília sobre a cidade que adormece.

3.12.07

A caminho do nada III

Bartolomeu

Na praia, fingi dormir enquanto todos descansavam, balbuciando aqui e além palavras soltas de um tempo
que não volta mais. Fingi, porque nunca tinha visto tantas estrelas e tanta calma enredada num imenso silêncio.

De manhã, Juvenal levou-me até Bartolomeu. Um Pai de Santo "que não vem no cartão postal". Tal e qual como nas telenovelas ou no nosso imaginário. O caminho, tortuoso, enervou-me. Chegamos ao terreiro e uma mulher muito gorda, de vestes brancas, daquelas que aparecem no Sambódromo a rodar com bandeiras em dias de Carnaval, ofereceu-nos sumo de pitanga. Não bebi. Segurei o copo firme até ao fim da visita.

- Não se preocupe. Vai encontrar tudo aquilo que procura. - dizia Pai Bartolomeu, enquanto me passava algo pela testa que cheirava a uma fruta que não indentifiquei.

Arrepiei-me. As palavras simples, e nada premonitórias, despiram-me ali mesmo no chão do terreiro.
As mulheres dançavam revirando os olhos, animais à solta corriam desenfreados para o seu último dia. O cheiro intenso daquele sítio amordaçava-me o coração e eu não tinha como fugir.

De repente, acordei nos braços de Juvenal que me limpava o suor adocicado da minha testa, ainda de turista.

Pedi a Juvenal para partir. Tinha ficado tempo demais.


Ana Ribeiro, A caminho do nada.