30.6.08

Sonnet 20


A woman's face with Nature's own hand painted
Hast thou, the master-mistress of my passion;
A woman's gentle heart, but not acquainted
With shifting change, as is false women's fashion;
An eye more bright than theirs, less false in rolling,
Gilding the object whereupon it gazeth;
A man in hue, all 'hues' in his controlling,
Much steals men's eyes and women's souls amazeth.
And for a woman wert thou first created;
Till Nature, as she wrought thee, fell a-doting,
And by addition me of thee defeated,
By adding one thing to my purpose nothing.
But since she prick'd thee out for women's pleasure,
Mine be thy love and thy love's use their treasure.

W. Shakespeare

Este soneto deu origem a uma genial composição musical por Rufus Wainwright, cantada e tocada pela primeira vez na Casa das Artes em Famalicão no dia 28 de Junho de 2008. Sim, eu sei isto tudo, porque estive lá! Até me arrepiei...Obrigado pelo envio do poema!

25.6.08

Desalinho

Na valsa dos meus dias há um desalinho permanente que me põe a ansiolíticos.
Um comprimido para alinhar, outro para desalinhar. E há sempre uma linha muito ténue
à espera de ser alinhada com miras de corte para ferir sem deixar rasto. Muito fina, muito alinhadinha.
E isso provoca sempre uma sensação de desalinho.

Ana T. Ribeiro

4.6.08

Arte Poética

A poesia do abstracto...

Talvez.

Mas um pouco de calor,

A exaltação de cada momento

É melhor.

Quando sopra o vento

Há um corpo na lufada;

Quando o fogo alteou

A primeira fogueira,

Apagando-se fica alguma coisa queimada.

É melhor...

Uma ideia

Só como sangue de problemas;

No mais, não,

Não me interessa.

Uma ideia

Vale como promessa

E prometer é arquear

A grande flecha.

O flanco das coisas só sangrando me comove,

E uma pergunta é dolorida

Quando abre brecha.

Abstracto!

O abstracto é sempre redução,

Secura;

Perde -

E diante de mim o mar que se levanta é verde:

Molha e amplia...

Por isso, não:

Nem o abstracto nem o concreto

São propriamente poesia.

A poesia é outra coisa.

Poesia e abstracto, não.

Vitorino Nemésio