26.7.06

AMOR


"Amo-te. E dói escrevê-lo (...). Amo-te absoluta, impossível e fatalmente.(...) E ouço música porque ouvimos música quando amamos, e tudo, no amor, é música, acústica da alma que quer ser devorada, e, neste caso, dor (...) de amar sem sequência nem expectativa..."
in AMOR de António Mega Ferreira (2002)

21.7.06

Ninguém chega ao paraíso de olhos secos.
Thomas Adams

12.7.06

Será?

É mais fácil ser amante do que marido pela simples razão de que é mais difícil estar disponível todos os dias do que dizer coisas agradáveis de vez em quando.

Honoré de Balzac

11.7.06


(...)
Hoje abri novamente a janela onde sempre me debruço e escrevi: aqui está está a imobilidade aquática do meu país, o oceânico abismo com cheiro a cidades por sonhar, invade-me a vontade de permancer aqui, para sempre, à janela, ou partir com as marés e jamais voltar...
releio o que escrevi há doze anos, neste mesmo lugar: as canetas secaram, os lápis ficaram esquecidos não sei onde. as borrachas já não apagam a melancolia das palavras, a escrita que inventámos evadiu-se do corpo. o vazio devora-nos. onde estivemos este tempo todo? voltaremos a encontrar e a tocar nossos corpos?

Não estás aqui mas vejo-te nítido quando uma pétala de bruma envolve a casa e adormece o desejo. um astro ininteligível e de órbita difícil guia-me, ilumina-te pelas frestas dum espaço oco perscruto o eco do meu corpo, o silente medo de continuar vivo.
sento-me em cima do meu próprio lixo e sorrio. espero que cheguem outros dias com algum sonho, ou destino, mais feliz.

AL BERTO

10.7.06

Eterno

Quero que gostes de Pina Baush, ou até já nem gostes,
queiras mais queiras diferente;
que gostes da cor e do risco forte de Miró
e do canto desiludido e fundo de Ferré;
quero que aprecies os cheiros sensíveis da eternidade
do grande bruto grande e do pequeno sensível e pequeno;
quero que mores nas páginas da Photo e que, sendo um modelo de virtudes
representes a cortesã mais lassa para mim;
quero-te com mãos de pedra e de veludo;
quero que ames o chique e a Serra d'Aire
- mais o safari que a recepção,
quero que mores e sofras nas páginas de Guido Crepax
e que te irrites com a perfeição absoluta de um retrato de Medina
quero que, se possível vivas dentro do anúncio do Martini
felina e ondulante numa ilha tropical
quero que sejas capaz de divertir-te, de soltar uma ampla gargalhada,
ante o espectáculo ridículo e obsceno de um homem de Quinhentos
a quem atribuíssem um número de contribuinte
quero que ames o longe e a miragem, como o Régio
e que sejas louca e sábia
que tenhas lábios e mordas,
língua e sorvas, sexo e sexes, salto e salto, riso e rias,
sorvedouro inteiro de vida, arrepio de garça, sacudir de cisne,
passos de corsa, graça de arlequim,
pose de Diva, corpo de areia e luz.
E quero que me dês, me dês muito, que me dês tudo,
e que abras as janelas de par em par ao Tejo
e fecundes um poema em cada gesto
e voes como a gaivota em cada espreguiçar
e partas para a Índia em cada cacilheiro
e que sejas, mores, vivas e creias
longe
muito longe daqui...

quero que sejas profundamente minha e ritual
obsessiva e lúcida, doente, febril, tremendo de desejo
disposta a tudo e a mais e a muito mais,
boca de Mundo, seios de Mármore, corpo de Alfazema
e sobretudo Mulher e sobretudo amante.
Se existires assim, nua, inteira, absoluta e pessoal
responde-me
que eu fico aqui, eterno, à tua espera.

(letra e música de Pedro Barroso in CD «Longe daqui», 1990)

Boa Noite



Chega a hora. A hora em que me despeço e digo boa noite baixinho, para quem quiser ouvir. A hora em que tiro os sapatos vermelhos e coloco-os simetricamente, porque é assim que gosto deles. Simétricos, como numa fotografia qualquer.
Chega a hora em que te segredo ao ouvido aquilo que sempre quiseste ouvir e que eu nunca tive coragem de te perguntar. Porque eu sei, que tu aí nessa cadeira, anseias por ouvir as minhas histórias enquanto lês as dos outros. Enquanto olhas lá fora o jardim, e eu deitada no chão passo a mão pela relva até a sentir por entre os dedos. Chega a hora de te dizer adeus e voltar à realidade das tuas histórias mal contadas e das minhas, fechadas a sete chaves.