Entrada só para casais.
Entrámos no Delight. Outrora pertencente ao submundo da prostituição, conservava ainda as paredes rosa choque e os candelabros pirosos. Sofás de veludo verde garrafa espalhavam-se pelas labirínticas salas onde muitos homens e mulheres se devem ter encostado uns aos outros num prazer despreocupado e bem pago.
Uma mulher loura, muito branca e com os olhos muito pintados de negros, arrastava-se no palco cantando e contorcendo-se como ninguém estivesse a olhá-la. A música vinha de um rádio manhoso do lado direito do palco. O Delight não era um submundo de carne vendida a troco de moedas, mas um mundo submerso de personagens vendidas ao revivalismo dos cabarets e à moda do antigo.
Pedimos dois martinis e sentámo-nos num dos sofás que ocupava a primeira fila do concerto.
A tua mão entrava na minha saia ao ritmo da voz da loura. Lenta e subversivamente, a deixar escapar pequenos gritos de angústia. Pensei nos sofás e nas suas histórias. Afinal, estávamos ali para nos roçarmos como outrora o faziam as mulheres de vida fácil e o senhores de boas famílias. As nossas vidas não eram definitivamente fáceis e boas famílias já há muito que tinham deixado de existir. Fizémos amor com as mãos no sofá verde garrafa em frente ao palco. Despedimo-nos. Acho que nunca soube o teu nome. Pelo menos, conseguimos entrar os dois naquela noite fria, onde só era permitida a entrada a casais.
Uma mulher loura, muito branca e com os olhos muito pintados de negros, arrastava-se no palco cantando e contorcendo-se como ninguém estivesse a olhá-la. A música vinha de um rádio manhoso do lado direito do palco. O Delight não era um submundo de carne vendida a troco de moedas, mas um mundo submerso de personagens vendidas ao revivalismo dos cabarets e à moda do antigo.
Pedimos dois martinis e sentámo-nos num dos sofás que ocupava a primeira fila do concerto.
A tua mão entrava na minha saia ao ritmo da voz da loura. Lenta e subversivamente, a deixar escapar pequenos gritos de angústia. Pensei nos sofás e nas suas histórias. Afinal, estávamos ali para nos roçarmos como outrora o faziam as mulheres de vida fácil e o senhores de boas famílias. As nossas vidas não eram definitivamente fáceis e boas famílias já há muito que tinham deixado de existir. Fizémos amor com as mãos no sofá verde garrafa em frente ao palco. Despedimo-nos. Acho que nunca soube o teu nome. Pelo menos, conseguimos entrar os dois naquela noite fria, onde só era permitida a entrada a casais.