30.11.07

The Bubble


Quando já nada me parecia surpreender, eis que o Embaixador de Israel em Lisboa, traz um Ciclo de Cinema Israelita à borla, no Sá da Bandeira.



Entramos na Sala Bebé. Ouvimos o Embaixador falar. Gostei do que disse, num inglês tropeçado. Começa o filme. A expectativa transformou-se em tantos sentimentos e explosões de tantas coisas sentidas ao mesmo tempo. A mais bela cena de sexo com amor que já vi em algum lado, em algum filme, em alguma vida, era na tela vivida por dois homens. Foi algo de extraordinário. Ri, pensei, e quase chorei. "There's a thought for the soul."- ou algo parecido dito muitas vezes no filme, transformou a minha bolha e abriu-a ao mundo.



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28.11.07

REVISTAS AVANT-GARDE EM SERRALVES


EXPOSIÇÃO
Artistas ou pequenas editoras tem publicado Revistas Vanguardistas desde o princípio do século XX, permitindo assim a movimentos artísticos estabelecer redes internacionais de comunicação.

Por/via Fundação de Serralves

COMISSÁRIO/Guy Schraenen
ONDE/Biblioteca, Fundação de Serralves
DATAS/até 11 JAN 2008
SITE/www.serralves.com

21.11.07


"Queria escrever e não podia; duas ou três linhas depois de começar soltava o papel e chorava de impotência. Eu dizia-lhe que ele era um escritor mesmo que nunca conseguisse escrever uma só folha, e isso consolava-o. queria que eu o ensinasse a escrever, mas escrever não é uma profissão, é antes uma espécie de maldição; o mais terrível é que ele tinha sido tocado por essa maldição, mas o estado em que os seus nervos se encontravam impedia-o de escrever. Nunca gostei tanto dele como naquele dia em que o vi sentado diante do papel em branco, chorando de impotência por não saber escrever."

Reinaldo Arenas, Antes que anoiteça

Ai, que medo!


De 20 a 30 de Novembro na Biblioteca Almeida Garrett
Direcção Artística José Carretas
Com Ana Margarida Carvalho, Blandino, Eva Fernandes, Helena da Silva e João Melo

Ai, Que Medo! é um projecto transdisciplinar dedicado à temática do medo, que cruza e reinventa texto, interpretação, imagens, sons e ambiente plástico.
Um grupo de cinco amigos confronta-se com situações capazes de provocar ou receio, ou medo. Em conjunto, os cinco amigos vão vencer todas as dificuldades brincando com os medos e "resolvendo-os", através do humor.
E distribuído por todos, porque o medo, a dividir por muitos, dá menos a cada um.

Espectáculos:
De 20 a 22 e 25 a 30 de Novembro
10h30 – escolas
15h – escolas e público em geral | Preço por bilhete: 4€

Dia 23 de Novembro
15h - escolas e público em geral | Preço por bilhete: 4€
21h30 – público em geral | Preço por bilhete: adulto 7,5€; criança 5€

Dia 24 de Novembro
16h - público em geral | Preço por bilhete: adulto 7,5€; criança 5€

Desconto para grupos escolares superiores a 150 alunos

Lançamento do Livro "Ai Que Medo!", dia 24 de Novembro às 18h, no foyer da Biblioteca Almeida Garrett.


Informações e Reservas:
Panmixia - 961531812/15 / 963836775
panmixiaac@hotmail.com

8.11.07

O Ilustre

Sentei-me calmamente, enterrando-me no sofá. Sofia desapertava o vestido, lenta e metodicamente. Primeiro os botões de cima e depois os outros. Os dedos finos, cautelosos. Parecia tocar harpa e a antecipação de ver o seu corpo numa nova lingerie deixava-me inquieto. O copo de vinho tinto aquecia na minha mão. E Sofia aquecia a nossa cama com o seu branco corpo e a sua nudez plácida. Chamou-me com os olhos e eu entrei naquele mundo sem portas, que me acolheu como se fosse um ilustre convidado.

6.11.07

A Caminho do Nada II

A Chegada

Chegámos. Salvador é lindo. É uma espécie de amor forte, e por vezes, difícil de digerir. A chegada é sempre acompanhada da expectativa do novo, do desconhecido, de novas caras que espreitam janelas e leques que se abanam à nossa frente e de gente que se confunde com a terra e com o calor.

É incrível como um sítio assim, nos deixa sem saber qual é o nosso lugar.

Juvenal sorria à porta. Enxuto, 83 anos de Salvador. Homem magro, mulato, com chapéu de palha e cigarro de enrolar no canto da sua boca ainda de malandro. Casado e pai do mundo. Não tinha filhos, só gatos.

Falámos, abraçámo-nos, chorámos sem nunca nos termos conhecido. Só pelas palavras açucaradas do meu avô. Só pelas
fotografias e estórias na hora de dormir. Imaginava-o tal qual era de facto, talvez um pouco mais alto.

O meu quarto, azul, cheirava a velho. Não a velho de podre, mas a velho de história, de livro empoeirados ao canto do quarto. Pousei a mala. Não a desfiz. Abri a janela e senti-me em casa. Os gritos das crianças acumulavam-se na rua atrás de uma lata velha usada para uma peladinha antes do jantar.

Olhei-me ao espelho que competia na parede com uma imagem de Iemanjá. Reconheci-me, o que de facto era uma boa sensação. Precisava de um banho urgente. Um banho de limpeza, não só de pele mas de espírito. Meti-me na banheira e fixei os olhos na santa azul.

Depois do almoço, subimos o rio vermelho, zona preta e piscatória. Contei a Juvenal que o meu avô não era bem a razão por que me encontrava ali. Ele riu-se, de cigarro no canto da boca, e continuou a subir o rio, como quem sabe exactamente onde está. Ele sabia. Eu não.

Linda de uma maneira muito própria, a zona da Barra aparecia à nossa frente, como uma mulher que acaba de fazer amor. Uma rapariga muito morena e um bando de crianças, esperavam-nos numa espécie de porto. Espécie, porque eram umas tábuas de madeira arranjadas de maneira a parecer um porto. Nem mais nem menos.

- Bem-vinda - disse a rapariga de brilhos nos olhos, alimentando a esperança na minha visita e segurando a minha mão.

Na Barra, a noite desceu quente e ruidosa de insectos por catalogar.

5.11.07

Tá combinado



Então tá combinado, é quase nada
É tudo somente sexo e amizade.

Não tem nenhum engano nem mistério.
É tudo só brincadeira e verdade.

Podemos ver o mundo juntos,
Sermos dois e sermos muitos,
Nos sabermos sós sem estarmos sós.

Abrirmos a cabeça
Para que afinal floresça
O mais que humano em nós.

Então tá tudo dito e é tão bonito
E eu acredito num claro futuro
de música, ternura e aventura
Pró equilibrista em cima do muro.

Mas e se o amor pra nós chegar,
De nós, de algum lugar
Com todo o seu tenebroso esplendor?

Mas e se o amor já está,
se há muito tempo que chegou
E só nos enganou?
Então não fale nada, apague a estrada
Que seu caminhar já desenhou
Porque toda razão, toda palavra
Vale nada quando chega o amor...

Caetano Veloso

2.11.07

És tão inconveniente como uma manhã, em que temos que sair, e que se lembrou de chover a potes. És terror das minhas tardes quando não penso em nada e vens tu devagarinho encostares-te aos meus devaneios. Encostas-te, rastejas, perfuras o meu coração pequenino. Alfinetadas. Sim, é isso que parece. Alfinetadas que me põe a respirar ofegante. E tu encostas-te cada vez mais. Tu sabes que eu sei que tu te encostas. Devagarinho para doer pouco. De repente para não perder o susto. E no entanto, sabemos que não podemos viver sem alfinetes e corações pequeninos que no escuro sozinhos, bem à noitinha quando ninguém vem para interromper, trocam de posição de vez em quando.